sexta-feira, 26 de outubro de 2018

On The Awareness Of The Sky

On the awareness of the sky, dark
as a black angel. As I
lay my head on your skin, eyes
deeply closed
the glimmer of apple stars
the moisture of cinnamon lips

Unfold the taste of rain. Blur
memories off my book. Engage me
into the finest love transfusion
Now

© 2018, José Coelho


quinta-feira, 4 de outubro de 2018

This Big Vertigo


This Big Vertigo

It's hard to make out until where
the horizon is

Let us think of that turgid, shapeless thing
penetrating. In us

landscapes of concave breasts, clay
hoisted sails beseeching

far away, the sea
so far, it's just about smell, sometimes

there are names that rise and stand up
hurt, full of pride

between us and the horizon
the big questions

formulated in dreams' matter, slide
warm by the sand without even touching it
and we carefully. Let's think

about the shadows that were synonyms
of light - quasi mass
only -

and about the mountains that often
were born, skimming the sky in gray whirlwinds -
come join us, die as happy as these
stones – one would feel the great
vertigo

hot - pulsating delirium and saddened
ties in the wind -
close, so close it swallowed
the hours, the feeling. Today

it's hard to see it clearly.

© 2018, José Coelho



segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Apenas a Tua Morte


Odeio a morte dos outros. Reprovo-a
fisicamente. Toda e qualquer tentativa de
entendimento falha perante o colosso da ausência que nunca enterrei.

Habita-me um desejo redondo que me faz morder
a própria carne. Refugo de lembranças
vagueiam-me pelo cérebro - coisas que pensam
por si e fingem ser a sério. Confundem-se,
confundo-me.
Apenas a tua morte me interessa e essa foi-o
Singularmente.

© 2018, José Coelho

Home

It's good to be back home. Unless lost or a place you can't reach. The lemon tree welcomes you with the gift of slow yellow weights. The furniture's cedar odor waking basic definitions, memory cells you turn on. The shades on the floor, the whiteness of ceilings, the corridors leading nowhere because such emptiness exists. At night your face becomes a reality, moon printed, it grounds the sadness of desire. My body sleeps.

© 2018, José Coelho

O observador

O observador. Penetra o olhar, astuto
Divaga numa sensação de rarefacção, melancólico
A carícia daquele casal, no livro, é parecida com a realidade - ela pousa a sua mão na coxa dele. Ele observa-a. Depois engole ligeiramente e aproximando-se, encosta os lábios à sua boca. Lá fora, o tempo. Parece entoar uma ladainha amarela e húmida. Agora as línguas dançam. O observador fecha o livro. Deposita-o na estante e segue
Caminho.

Edgar Was A Bad Story, Thankfully.

Edgar Was A Bad Story, Thankfully.

Coincidence or not. Imagine you open a book, you take the 1st page and before you're done reading it, bam... there's a laboratory building up in your brain, with answers. The ones you've failed to attain for a while now. Maybe given up searching.
And then there's this path of undesirable situations you run into with no obvious reason where you end up killing time in a bookstore and you take the wrong book which leads you into the holy grail.
Breathe, slowly. Take two fingers from your left and right hands, adjusting them to the floor's cold surface. Allow me the rambling but none of us is heading nowhere, so you can just take a deep, slow breath and feel the temperature rising from the ground up to your fingers, skin slightly warming up as bones and nerves relax.
Edgar was a bad story and I shouldn't have forgotten that dinner but that's the way you open your door when someone's knocking and you don't listen.
Moreover there was a huge blue descending upon us.

sexta-feira, 20 de julho de 2018

Side Effects


Side effects

Come drink the full moon
expunge my sadness away you brave
soldiers. Love ruins have become something
for which there is no name
no map will guide your fingers
no water shall curve those roses
dripping, dripping, dripping
matter, infinitesimal thickness
yet you and I have known
these stolen places and their meanings rising
like nimbos between words
shadows among the milky pattern
of bodies
The luxury of sand existence
In me shells and oracles

© 2018, José Coelho



sexta-feira, 1 de junho de 2018

Rouge Bouquet


*Rouge Bouquet*

Obviously it was a mistake, those round eyes and
fully adherent lips circling the sea - its
masculine voice drawing
giant shadows, bending hearts over
Sunday sandy fields - moistening what would soon become
faces, sad faces embracing in long
velvet dreams, the sort that suck your brain into the depths of
sugar lyrics and warm sperm; obviously
the mistake of counting waves, their
individual repetition falling as thoughts against
skeptic flowering walls ready to shout out
their spring meaning. However, their silence
remains the rouge bouquet one drinks before
love and death - garment of souls.
At such times the sun
as an ever lasting mother temple
shines its kindness and constancy
making it all seem so brute
and simple.

© 2018, José Coelho

terça-feira, 10 de abril de 2018

Anatomia de Nós

Somos amiúde
mais que mãos, dedos, olhos, chuva, cheiro, terra
amiúde há que optar pelos sítios mais inócuos
para que o toque não se quebre e continue
sendo o requinte de uma pétala
a florir encurvada, rosa-creme-leite
pálpebra semiaberta, humedecida quase
rio, amiúde somos
água deslizando sem razão, apenas
uma força que puxa matéria
aquela escondida por detrás do olhar
das mãos, dos dedos amiúde surge
a gravidade das coisas
dos sítios das palavras nascem
arrepios e pensamentos
da forma e textura da pele
levanta-se a briza que aflora o mar
suave até ao abismo e deleite
da espuma.

-----------------------------------------

Anatomy of Us

We are often
more than hands, fingers, eyes, rain, smell, earth
we often have to choose the most innocuous place
so that the touch doesn't break and continues
being the refinement of a petal
flowering curved, rose-cream-milk like
half-open eyelid, almost moistened
we are often
water sliding for no reason, just
a force that pulls matter
the one hidden behind the gaze
of hands, of fingers often arises
the gravity of things
within words plot are born
shivers and thoughts
the shape and texture of skin from which
the sea breeze rises touching the surface
smooth up to the abyss and foam's
delight.

© 2018, José Coelho

domingo, 8 de abril de 2018

Alameda Sul


No outro dia pude verificar o quanto em nós vive, sem nos pertencer. E à medida que avançava por ruas ladeadas de lápides de mármore e cimento, eram árvores de ramos cinzentos a chorar infinitésimas lágrimas verdes, daquele verde vida, tenro, transparente, iniciador dos espaços e das estações.
Opto, normalmente, por não falar a ninguém. Absorto em ideias de sentimentos, elapso o tempo numa espécie de roteiro do intocável, frágil mas sereno, eu.
Também nunca soube o número exacto, aquele que me levaria à morada certa, rapidamente. Requer-se um um processo de aproximação algo ansioso, uma forma imperfeita de adequação a um mundo singelo, desconhecido. Ao invés de certezas, oriento-me pelos edifícios que ladeiam o lado sul. E sei que à semelhança de em vida, na morte ela permanece por perto. Como se não ousasse afastar-se da sua identidade.

----------------------------------------------

The other day I was able to verify how much in us lives, without our belonging. And as I moved along streets lined with tombstones of marble and cement, it were trees of gray branches weeping infinite green tears, the sort of that life green, tender, transparent, initiator of spaces and seasons.
I usually choose not to speak to anyone. Absorbed in ideas of feelings, I spent time in a kind of script of the untouchable, fragile but serene, me.
I was also never aware of the exact number, the one that would take me to the right address, quickly. It requires a somewhat anxious process of approximation, an imperfect form of adjustment to a simple, unknown world. Instead of certainties, I focus on the buildings that line the southern side. And I know that as in life, in death she remains near. As if she didn't dare to turn away from her identity.

© 2018, José Coelho




segunda-feira, 19 de março de 2018

Paisagens Vespertinas

Paisagens Vespertinas

Inúmeras vezes, sem me dar conta da razão, voltei. Havia uma atracção vã pela matéria e pelo cheiro; uma viscosidade dócil que aderia à química do coração. E na pele vespertina, esboços de fugas para um amanhã.

Mais tarde apercebi-me também da importância do som. Para lá disso mesmo, era um embalar de motor que encaixava plenamente nos espaços livres. Completo o puzzle, produzia-se assim o efeito solução e tudo concorria para um pico de pura felicidade vernal.

Devo admitir que amiúde fantasio com estas recordações e que apesar de distantes e finas no tempo, a sua aura foi evoluindo para algo que hoje poderia classificar de patético e sublimado – entenda-se que é tudo na minha imaginação.

Há ainda pouco tempo, tive o prazer de ser assaltado por um conjunto de emoções que inexplicavelmente me levaram ao pranto. Regozijei-me com esse momento de ilusão; apesar de curto, foi real.

© 2018, José Eduardo Coelho


domingo, 18 de março de 2018

Paisagens Rúbeas


Paisagens Rúbeas

Sentir aquele prazer infantil, de nada
ter de fazer, senão estar e observar
uma dormência que desce pela espinha
o quanto, apesar de inúteis somos
queridos, presentes, constantes como
peça de joalharia fina, ao pescoço
brilhando, escondida

Acerco-me desses dias apenas
vagamente induzo propriedades quentes
que acredito residirem algures
dentro de mim posso
acordá-las e olhá-las com a inércia
da saudade

Depois há os mapas, que digo
serem de cidades, mas em verdade são
representações das almas que já
amei e amo

Habito-as a todas, ensino-as
por quadrantes e linhas respeito
cada casa, cada parque, cada rio
memorizo seus cursos

até à foz há-de ser
oceano.

© 2018, José Coelho



quarta-feira, 14 de março de 2018

Lascívia e Mel


Lascívia e Mel

Os pressupostos são claros. Lascívia e mel para toda a gente. Pequenas doses faseadas ao longo do dia, mas a intervalos mais curtos pela manhã. É essencial introduzir o estímulo pela garganta dos oprimidos e madrugadores. A bem da esquinas ou doutras zonas pontiagudas, que florescam os lírios e/ou as açucenas cândidas, que se ruborescam faces e seios se ajeitem. Do leite surgirão as curas dos nossos problemas, tão míseros como
catequistas. Seguiremos bocejando às portas de monumentos de alvenaria, bem como de freiras conventuais ou ainda de lustre de conas benzidas.
Sem mais de momento,
Porra!

© 2018, José Coelho



Flowers, Debris and Lost Towns


Flowers, Debris and Lost Towns

Walking again on thorny stones, naked 
feet cooling off the desire that bursts 
from the earth beneath; like little butterflies 
sketching hearts 
in the sky
and a sort of imagination setting feathers off 
onto mountain peaks

To you, now, the hand that observes 
yours 
as it slides between my fingers
down to the sides of your
sex. Or maybe us walking 
above water, whereas the realization 
there's no end 
to the distance, left alone the touch
the learning, the living
pops into my mind

As rivers fill, I must secure 
ripe fruit from drowning. Two minutes 
will be enough. To die not
i feed my hunger, holding my breath the closest 
to the memory 
and jump diving into the cold. There 
I search among flowers, debris and lost towns. But 
yours is nowhere to be found

A bird's chanting 
makes its way to the sky. Its sound 
is the trigger that shall mean both 
men and nature's rise

One day. Near.

© 2018, José Coelho



domingo, 4 de março de 2018

Lucky One


Lucky One

In reality, it all goes down to a set of dynamically emotional pictures faithfully kept at the media library of our cerebral cortex.”

It would maybe be around six-forty. Time entered slowly into that edged luminosity - the hour when tips are broken, ceasing to be, and brief stories hand-and-line mended are resumed. A mother returned home, from work, walking. A necessary survival as well as learning life constant. A child waited by the window. A lingering heartbeat, measuring the thickness of fear, stuck to the darkness beyond the cold glass. An urgency of blood ran through the city arteries. The trees, so far uncovered and muted, were the melancholy. That we shared, all of us, like air and water and earthly roots. Then there were the eternally immaculate birds, which in these days went sheltered in arcades and chimneys. One waits upon the arrival under the awe of sickness. Maybe the one and only possible way.

Ten minutes would probably have gone by when the thud sounded beyond the gates and walls, and the red stained the paint-white and the dark tar-gray. On the road, a mother-woman lay. For a moment everything stopped, except the clots, gushing. Two ambulances came. People gathered in frigid anguish. Everything went as planned.

The child hugged the mother more intensely. This time, she was lucky.

© 2018, José Coelho

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Contrições

Pesos oscilantes, como memórias construindo a noção de tempo vago inseguro, talvez apenas o resíduo de certas imagens, escorregando, distorcidas, temporariamente, sempre temporariamente, enclausuradas numa cápsula de vidro, velho

Rodamo-la na esperança de ver, com paciência, o interior, como nas imagens do livro, que não estão lá, escondem-se, e depois de esquecidas, aparecem, vivas num admirável leque de contornos

Mas a luz é soberba e cega. o sangue flui devagar, a medo, e a ânsia, essa, galga o horizonte contrito das vidas que temporariamente esquecem, deitadas sob areia deste sol, redondo.

Mesmo que só (havia, porém,) um desenhar de ósculos a lamber a terra no vai-vem das ondas, uma floração contínua no limiar das nuvens, uma anunciação precoce na transparência das vestes, finas e reticulares mãos palpando a textura da fronteira entre o ser sujeito e o ser objecto

Pergunto-me se haveria um plano, esquecido numa qualquer gaveta sem mapeamento, a qual terei, porventura, negligenciado - morro por abrir e revê-la como quando caminho por uma rua da minha infância, lentamente, adocicando cada porta, cada janela, cada tijolo à mostra, respirando um elemento que apenas posso classificar de, mágico, pois é esse que me aproxima, de mim, dos outros e nos injecta luz

Quantas terão sido as  vezes que abusei do amor dos outros?

© José Coelho, 2018



quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Um País Chamado Gustavo

Um País Chamado Gustavo

não existia, mas
nele os padrões das calçadas eram
labirintos conjugados

onde sol e lua
se deitavam, satisfeitos
nas mãos de crianças

faróis e alvéolos
das marés ocidentais
o corpo de poentes

deslizando tal caracóis
na superfície que seria tua
pele

escrevendo tudo o que
mais tarde, seria
um recital

de poesia
se vivia nesse país
chamado, Gustavo

© 2018, José Coelho