domingo, 8 de abril de 2018

Alameda Sul


No outro dia pude verificar o quanto em nós vive, sem nos pertencer. E à medida que avançava por ruas ladeadas de lápides de mármore e cimento, eram árvores de ramos cinzentos a chorar infinitésimas lágrimas verdes, daquele verde vida, tenro, transparente, iniciador dos espaços e das estações.
Opto, normalmente, por não falar a ninguém. Absorto em ideias de sentimentos, elapso o tempo numa espécie de roteiro do intocável, frágil mas sereno, eu.
Também nunca soube o número exacto, aquele que me levaria à morada certa, rapidamente. Requer-se um um processo de aproximação algo ansioso, uma forma imperfeita de adequação a um mundo singelo, desconhecido. Ao invés de certezas, oriento-me pelos edifícios que ladeiam o lado sul. E sei que à semelhança de em vida, na morte ela permanece por perto. Como se não ousasse afastar-se da sua identidade.

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The other day I was able to verify how much in us lives, without our belonging. And as I moved along streets lined with tombstones of marble and cement, it were trees of gray branches weeping infinite green tears, the sort of that life green, tender, transparent, initiator of spaces and seasons.
I usually choose not to speak to anyone. Absorbed in ideas of feelings, I spent time in a kind of script of the untouchable, fragile but serene, me.
I was also never aware of the exact number, the one that would take me to the right address, quickly. It requires a somewhat anxious process of approximation, an imperfect form of adjustment to a simple, unknown world. Instead of certainties, I focus on the buildings that line the southern side. And I know that as in life, in death she remains near. As if she didn't dare to turn away from her identity.

© 2018, José Coelho




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