terça-feira, 19 de abril de 2016

Trauma

Trauma

Atrai-me uma incerta ordenação
das coisas
que me rodeiam e que
coleciono
como âncoras
que me ligam geo
emocionalmente
a um tempo e espaço
que condenso
nesta harmonia
só minha
e por isso
frágil

Esboço mapas mentais -
renovados diariamente até
à exaustão da
actualidade -
onde reúno e alinho
frases, pensamentos
que me preenchem e esgotam
apesar de
sem eles
não ser eu
mais

Confesso, por vezes
imiscuir-me na idéia e sonhos dos outros
só pelo prazer
de possuir algo mais
e compensar a sua sistémica
e nata
desarrumação

Enfim, tudo isso
não vale nada – continuo
a contornar a questão
essencial.


© 2016, José Coelho


segunda-feira, 18 de abril de 2016

Da Naúsea à Inspiração

Da Naúsea à Inspiração

(
o meu cão sofre de ilusões
nocturnas e além
disso, desarranjos intestinais
)

Enquanto limpo as juntas das tijoleiras
supostamente brancas
e derrapo
na textura, no cheiro, na
temperatura
bocejo de uma náusea
cerebral -
na medida da minha
lenta
progressão
inconscientemente dou
por mim embuído de
um espírito
melodioso, sem peso, sem idade -
porém, obedientemente
continuo
até repôr a perfeição
doentia e
eliminar qualquer infíma partícula
estranha ao
meio.

(
o passeio matinal decorre
na normalidade; a natureza aceita
o Homem indiferente
a tudo
)

© 2016, José Coelho


domingo, 17 de abril de 2016

Fina Lógica

A eloquência pueril das aparências
ilude
                  mesmo sendo
                            verdade

prefiro viver infectado
a asfixiar na tua fina

plasticidade

© 2016, José Coelho

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Há Lugares


Só para lembrar que há lugares
que nos pertencem
e aos quais pertencemos
por ou sem direitos
mais que adquiridos
sentidos

dá-se o caso, precisamente
da esquina da rua Garret com
uma avenida bem conhecida – que
do ditador herdou o dia
da liberdade

vendida, desfeita, quase
caída
essa esquina será
para sempre
minha

e há noites, ou dias onde
o lado côncavo
e eu
somos, o que só a nós
nos pertence
por vontade causal dos plátanos
que nos vigiam
e dos estores
que nos abrigam
e da alcatifa verde -
polida, suave, reminha - ordenando
ideias, pensando
melhor

há equinócios
onde o deslumbramento retorna
pelas manhãs
enchendo
mundos de uma sã
loucura

Noutras coordenadas
o zimbro
afaga a memória
numa imensa calma de água fresca
e doce
e como as pedras
e as estrelas e a granítica força do
trovão
caímos, rendidos
nessa terra.

© 2016, José Coelho

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Skin Will Erase Everything

Certain smells can remain
for ages
within the gaps
between tissues
of metal, wood, cotton
Skin will erase everything
alien to it self
within hours, at most
a day - the past becoming
what it should be
The past
however
pushing notes
whatever sort – song, lust, love
delivering them as foam
to the shore
our feet walk
will, one day, vanish
into a thin, flat
surface
So thin, we can't
touch it
not even see
properly -
perhaps discerning forms
of living things
and objects
in clouds and shades
is merely an exercise, for later -
the lines on the faces, on the streets, on the houses
and the trees balancing fast
too fast
so fast
our eyes doubt
they put a question mark
on time
For all those reasons
I shift
the weight above my forehead
down one and a half
hand
making it rest
on my
chest – which is
stronger
and doesn't think.

© 2016, José Coelho