quinta-feira, 28 de setembro de 2017

De Clavells i D'altres Desitjos

De Clavells i D'altres Desitjos

Na primavera os árabes
saíram à rua em desobediência democrática
e penaram as almas e os corpos
ante a inópia e a arrogância

vís são os tiranos! Ouvia-se cá
deste lado e nós
numa comunhão de direitos
humanos enaltecemos
essas vozes, tantas logo
sonegadas

Andámos a lutar por pão
saúde, educação e       já agora liberdade
de expressão - onde, quando, para quê -
e agora turvam-se as opiniões
que são questões internas, que
a constituição isto e os juízes
aquilo – como se a vontade deste povo fosse
uma coisa ruím, uma demência a tratar
à luz de uma lei hipócrita
democrática mente ditando silêncios
obrigatórios

e depois há aqueles – políticos - sempre
a pedir mais
participação, envolvimento, consciência cívica
adesão – pois para esses, digo eu
querem mais envolvimento que este que banha
as vossas nalgas
e destempera os vossos desígnios? - a bem
de uma união
à força

(Sem esquecer que até os Curdos…)

Que nasça o momento de lucidez e que a coroa
brilhe apenas depois do povo falar.


© 2017, José Coelho

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Acabemos Com A Nostalgia

Acabemos Com A Nostalgia

As grades em ferro, que lá continuam
e tantas vezes saltámos; os frondosos plátanos
que me acariciavam as manhãs e aos quais
tão amiúde subimos, escondendo-nos
nas suas ramagens, qual pardais
continuam lá; o chão duro
de alcatrão, gravilha e cimento, onde
não raramente senti o baque da queda nos
braços e pernas, continua lá
A rua virada a nascente
capaz de reter entardeceres húmidos
com o seu pinheiro nórdico no final, mesmo
junto ao jardim-de-infância
continua lá - e é uma aberração
esta permanência, quando nada, mesmo
nada continua lá. Mudem tudo

Merda! De uma vez. Escuso de andar
de lado, quando passo na minha rua
a evitar o olhar das velhas – que essas sim
por lá andam ainda, mais velhas que a loiça
e que os esgotos, a vender saúde
derivado aos conselhos da minha mãe -
já ida – escuso de roçar a casa que sempre será
minha e sentir uma força a puxar-
me para o interior de mim mesmo, sem
grades ou ferro que me detenham; por isso fujo
e volto na esperança de que seja lesta
a renovação – ou será que
imagino tudo?
Isso.

© 2017, José Coelho