Poesia
Regional
São
3 e 10. Desloco-me
à
cidade. A viagem é patéticamente
longa,
para uma distância
tão
curta
Chego
à paragem com alguns minutos
de
avanço – o suor do percurso a pé
reveste-me
o peito; as faces e testa
pingam.
Entro na loja
chinesa
e pergunto se têm água. Só
no
Miniprêço! Felizmente há uma
ventoinha
– deixo-me enredar na sua
ladaínha
fresca, apenas por uns
instantes.
O autocarro vem
vazio.
Escolho um lugar onde o ar
condicionado
funcione – ufa desta
tenho
sorte. Trago o computador que abro e logo
começo
a escrever. A estrada
não
ajuda – parece que vamos
no
pneumático de um martelo.
A
paisagem:
do
lado direito, eucaliptos
do
esquerdo, mimosas, por vezes
pinheiros
infestados com a
moléstia
e esquecidos; um ou outro
carvalho
ou sobreiro
crepitam
à espera da chama
prometida.
A coisa
prolonga-se,
depois casinhas e ruas estreitas
repetem-se
curva atrás de curva
numa
monótona sucessão
em
timbres familiares. Por fim
os
rios devolvem-nos à cidade e então
são
as rotundas, as casas e os prédios - a roerem-se de inveja - e os
jacarandás sem flor
e
os plátanos e uma linha de comboio
a
submergir-se em ervas
daninhas;
o estádio, as tascas, as vivendas -
onde
viviam pessoas e agora
negócios
prosperam ou vêm
a
falir – os palácios, as escolas
e,
de repente, imersa em pleno
centro
e numa nostalgia de requinte
urbano,
uma estação abandonada espera
com
ar de adolescente introvertido
e
alguma rebeldia, não se sabe bem
o
quê. O parque, contempla o
rio,
que aqui, abre todo o seu coração
e
se mostra belo e compassivo.
Exactamente
às 4 e 38
chegamos
ao
destino.
©
2016, José Coelho
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