quinta-feira, 29 de setembro de 2016

A Smooth Transition

A Smooth Transition

The idea that we could all be
particles in this long distance cycle
occurred to me while watching
the dancers. They perform their individual
act with a sophisticated, unaware
mood for the cohesion of the group
as if attracted by a common desire, one
able to dig the course of their
bodies

into a bigger, much bigger
thing
like a river, flowing
not to the sea but to multiple places -
a mouth à la carte for each
single bit

of course, then
we would all return, bound to
nature's law – same consistency, relations
dependencies -
yet, no memory to prove
but even so, not for
eternity.


© 2016, José Coelho


segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Verde Frágil

Verde Frágil

A frágil candura, na paisagem
assusta-me
pois a superfície que vejo é fina
como gelo
primaveril
Os verdes floresta confundem-me
pois eu conheço o que escondem, camada
sob camada
numa espécie de luxúria de
detritos, com assento
de nascimento
gravado nos leitos dos rios


E a essência dessa fragilidade, corre
gratuita, para os mares
da nossa ignorância
do nosso desprezo
da nossa tacanhez

tectónica.

© 2016, José Eduardo Coelho

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

The Curse of Rupture

The Curse of Rupture

I
Ever since the fall of days
the blankness in her eyes speaks solitude

I'm overwhelmed with rupture as birds' jungles
whirling and breaking free

Ever since
a line I wish to erase, just to
step aside and grasp its concept

yet
its curse arrests me
polishing my name of dirt and feathers
fall

into tumid days
behind massive trees where bats nestle

II
Today we went for a walk

Instead of hands, the hollow
of their touch and shattered clouds
roaming across the blues

through our veins
night ashes blown, settle

as the days and the bones and the feathers
once mine
once ours

definitely a need pinning its way
into rupture
a break through amber cast skies

Tomorrow I expect nothing
but rain taking wing

© 2016, José Coelho


terça-feira, 20 de setembro de 2016

Carbohydrates, Sugars, Proteins

Carbohydrates, Sugars, Proteins


Food is the basis of all poetry
yet if in excess
atrophies and degenerates any and all
creative act. It was said

of a bum wondering the streets
of Tenderloin, which
turned famous among his pals, for his
free triplets and
quatrains -
nearly as much as he
his writings, doodled on pizza boxes
used napkins and sometimes
paper, recycled and smooth
arose wide open before the eyes of Muni
users, at bus stops
and to less wary to these
forms of expression passersby, in
waste containers - it was said

his writings quenched his
soul and body part, that
more apt
to absorption, oblivion and given
to metabolism's
benevolence -
a mistake - flesh aims for
flesh
firstly the soul yearns
for water and food
and poetry is born - when it happens
and it wants – from the digestion of
pure carbohydrates, sugars, proteins,
be it in a gourmet condition
or in the end of its days.


© 2016, José Coelho


segunda-feira, 19 de setembro de 2016

From Different Places

From Different Places

Inside a box there was a chair
each time I peeked the inside
a different person was sitting on it
mostly they were doing nothing
but sitting still, their eyes
on a closer look
were kept acutely open
facing mine with
a familiar angle of
understanding and
urge

Outside, nothing concrete
to prove or deny but
coming closer to the wall
I could peek into the outward
through this hole
each day instead of certainties
just the sensation of diving
or getting lost within a
gelatinous sky
When my eyes got tired
I would sit on a chair
and wait upon imagination
to draw me someone as I

Yesterday, during the full
moon, the stag's bell filled both
in and outside

naturally.


© 2016, José Coelho

domingo, 18 de setembro de 2016

Hidratos, Açucares, Proteínas

Hidratos, Açucares, Proteínas


A comida é a base de toda a poesia
porém, quando em demasia
atrofia e degenera todo e qualquer
acto criativo. Dizia-se

de um mendigo chegado aos lados
do Arco do Cego, que
ficara famoso no seu meio, pelos seus
tercetos e quadras
livres -
quase tanto como ele
a sua escrita, rabiscada em caixas de piza
guardanapos usados e por vezes
em papel, reciclado e liso
surgia escancarada aos olhos dos utentes
da carris, nas paragens de autocarro
e aos transeuntes menos precavidos a
estas formas de expressão, nos
contentores de lixo - dizia-se

que era a escrita que lhe saciava
a alma e parte do corpo, aquela
mais apta
à absorção, ao esquecimento e dada
à benevolência
do metabolismo -
um erro - a carne pede
carne
primeiramente a alma anseia
por água e alimento
e a poesia nasce – quando calhe
e queira – da digestão de
puros hidratos, açucares, proteínas
sejam em estado gourmet
ou no final dos dias.

© 2016, José Coelho


sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Infra-estrutura Intuitiva

Infra-estrutura Intuitiva


Imbuído de uma ausência de certezas constato
que ao contrário do que poderiamos supor, por vezes
em direcções concorrentes
permanecemos ligados por uma espécie de
infra-estrutura intuitiva – semelhante à que
determina a guerra ou o amor – por onde partilhamos
as sobras das nossas mais básicas e sólidas
emoções diárias.

E a impossibilidade de desfazer
essa rede é uma questão de pura
Espécie.



© 2016, José Coelho


quinta-feira, 8 de setembro de 2016

A Couple of Things I've Missed

A couple of things I've missed

to water
my plants to
stupidly bemuse
the turtles and the purples and
avoid butterflies' owners
with nothing but
things
they own ~ invisible
wings decaying
to wash my letters of all
the dirty ideas
and hide any mountains
under the sheets where
trees rest their roots
and landscapes grow, their freshness
of rivers
to sing as if being
in love and
silence my stream when closing
my eyes

each night
I am an undesirable drink
one you'd be wishing to
keep safe
far behind the code
of your dreams
close to hell's
heat
however, words pop
and feed
illusion

up to the skies
I breathe
only to miss
the greatest and rarest

You


© 2016, José Coelho


segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Poesia Regional

Poesia Regional

São 3 e 10. Desloco-me
à cidade. A viagem é patéticamente
longa, para uma distância
tão curta
Chego à paragem com alguns minutos
de avanço – o suor do percurso a pé
reveste-me o peito; as faces e testa
pingam. Entro na loja
chinesa e pergunto se têm água. Só
no Miniprêço! Felizmente há uma
ventoinha – deixo-me enredar na sua
ladaínha fresca, apenas por uns
instantes. O autocarro vem
vazio. Escolho um lugar onde o ar
condicionado funcione – ufa desta
tenho sorte. Trago o computador que abro e logo
começo a escrever. A estrada
não ajuda – parece que vamos
no pneumático de um martelo.

A paisagem:
do lado direito, eucaliptos
do esquerdo, mimosas, por vezes
pinheiros infestados com a
moléstia e esquecidos; um ou outro
carvalho ou sobreiro
crepitam à espera da chama
prometida. A coisa
prolonga-se, depois casinhas e ruas estreitas
repetem-se curva atrás de curva
numa monótona sucessão
em timbres familiares. Por fim
os rios devolvem-nos à cidade e então
são as rotundas, as casas e os prédios - a roerem-se de inveja - e os jacarandás sem flor
e os plátanos e uma linha de comboio
a submergir-se em ervas
daninhas; o estádio, as tascas, as vivendas -
onde viviam pessoas e agora
negócios prosperam ou vêm
a falir – os palácios, as escolas
e, de repente, imersa em pleno
centro e numa nostalgia de requinte
urbano, uma estação abandonada espera
com ar de adolescente introvertido
e alguma rebeldia, não se sabe bem
o quê. O parque, contempla o
rio, que aqui, abre todo o seu coração
e se mostra belo e compassivo.

Exactamente às 4 e 38
chegamos
ao destino.

© 2016, José Coelho


domingo, 4 de setembro de 2016

The Dry Humidity of Madness

A humidade seca da loucura

avança pela rede
capilar, como um exército
de formigas

descontentes. Elas
são apenas a ameaça disso mesmo
e no entanto

sinto o corpo
a vergar - o sangue desconfia
e minga como a água

da montanha. Receando
expôr-se ao sol e evaporar
fecha-se

intimista. Revejo
todos os mapas e saídas
de emergência

convulsivo. Analiso
a sua proximidade física e
através da temperatura

imagino coisas que
engulo. O sabor delas apazigua-me -
reflexo colateral.

© 2016, José Coelho

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The Dry Humidity of Madness

advances through the capillary
network, as an army
of ants

discontented. They
are merely the threat of that
and yet

I feel the body
to buckle - blood distrusts
and wanes as mountain

water. Fearing
getting exposed to the sun and to evaporate
closes himself

intimately. I review
all maps and emergency
exits

convulsive. I analyze
their physical proximity and
by temperature

I imagine things
I swallow. Their taste appeases me -
collateral reflection.


© 2016, José Coelho