segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Grandes Certezas

A grande certeza da noite: dispo-me antes de entrar
na cama; gostaria de dizer com sabor a vodka negro ou
outra qualquer bebida forte, mas a verdade é que a lingua
saberá a pasta dentífrica e
não me queixo – também ajuda a adormecer quando
casado com o livro certo.
A vizinha mudou-se e com ela foram as horas e os minutos
nocturnos – os outros não, felizmente!
Lá fora, o frio imobilizou as árvores; com a ajuda de todos
transportámo-las para o interior e acolchoámos
as paredes de musgo, o que deu um ar de
caça e pássaros a esvoaçar
Assim que, em vez de ler, pego numa caçadeira
que guardo debaixo da cama e ponho-me aos tiros
imaginários – não há arma, só dedos que cravam
estrias rasgando a pele seca – e a contar mé més que surgem
surgindo a confirmar o silêncio, que se instala
Qual será a próxima questão? O irromper
do cuco, no relógio
talvez.

The night's big certainty: I strip off my clothes before getting
into bed; I would love to say with a black vodka flavor or
any other strong drink, though the truth is the tongue
will taste toothpaste and
I'm not complaining – it helps just as well dozing off when
married with the right book.
The neighbor moved away and with her gone are the nightly
hours and minutes – not the others, luckily!
Outside, trees got frozen; with everybody's help
we've moved them inside and padded
the walls with moss, which made it look like
hunting grounds and birds flitting about.
So, in place of reading I grab a shotgun
kept under the bed and open imaginary
fire – there's no weapon, only fingers spiking
striations tearing dry skin apart – counting baa baas which arise
appearing to confirm the silence that settles.
What will the next question be? Cuckoo's outbreak
in the clock
maybe.


© 2016, José Eduardo Coelho

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