Na essência, tudo acabou
hoje. Percebi-o
depois de executadas as
tarefas matinais – passear os cães, tomar o pequeno almoço e dar água às plantas. Sentei-me
em frente ao computador
e o vazio era
do tamanho do vale e da montanha
e do céu em guarda-chuva azul, tudo
prodigiosamente escancarado do outro lado da janela.
O movimento dos carros, as pessoas, o verde
dos campos, à sua distancia
não táctil
trouxeram-me – nem sei
bem porquê - à memória a quinta de
brincar da minha infância – cercas, vacas
cavalos, tractores,
alfaias. Enquanto eu
metodicamente
definhava, tudo crescia
reguladamente – a estrada, as árvores, os
filhos, a casa; menos eu, oco, louco, leve, estreito, cada vez mais
embrenhado em pensamentos
e menos carne. Lembrei-me
nitidamente de metas e projectos que seriam
os meus; porém
alheios, sem dono, dissiparam-se e
instalou-se em mim uma certeza de abandono e
queda.
Blue
Umbrella
In
essence, everything ended
today.
I realized it
after
carrying out the morning tasks – walk the dogs
have
breakfast and feed the plants some
water.
I sat in front of the computer
and
the void was
the
size of the valley and of the mountain
and
of the blue-umbrella sky, all so
prodigiously
wide open
just
behind the window.
The
movement of cars, the people, fields greenery, at their
non-tactile
distance
brought
to me – I really don't
know
why – the memory of my childhood make-believe farm –
fences,
cows
horses,
tractors, implements. While I
methodically
fell
off, everything grew
neatly
– the road, trees, the children, home; besides me
hollow,
insane, weightless, tapered, ever more
thrust
in thoughts
and
less flesh. I recalled
clearly
of goals and projects, supposedly mine; although
absent-minded,
unowned, became fuzzy and
in
me a certainty of desertion and fall got settled.
©
2016, José Eduardo Coelho
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