sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Guarda-chuva Azul


Na essência, tudo acabou
hoje. Percebi-o
depois de executadas as tarefas matinais – passear os cães, tomar o pequeno almoço e dar água às plantas. Sentei-me
em frente ao computador
e o vazio era
do tamanho do vale e da montanha
e do céu em guarda-chuva azul, tudo prodigiosamente escancarado do outro lado da janela.
O movimento dos carros, as pessoas, o verde dos campos, à sua distancia
não táctil
trouxeram-me – nem sei
bem porquê - à memória a quinta de brincar da minha infância – cercas, vacas
cavalos, tractores, alfaias. Enquanto eu
metodicamente
definhava, tudo crescia
reguladamente – a estrada, as árvores, os filhos, a casa; menos eu, oco, louco, leve, estreito, cada vez mais
embrenhado em pensamentos
e menos carne. Lembrei-me
nitidamente de metas e projectos que seriam os meus; porém
alheios, sem dono, dissiparam-se e
instalou-se em mim uma certeza de abandono e queda.

Blue Umbrella

In essence, everything ended
today. I realized it
after carrying out the morning tasks – walk the dogs
have breakfast and feed the plants some
water. I sat in front of the computer
and the void was
the size of the valley and of the mountain
and of the blue-umbrella sky, all so
prodigiously wide open
just behind the window.
The movement of cars, the people, fields greenery, at their
non-tactile
distance
brought to me – I really don't
know why – the memory of my childhood make-believe farm –
fences, cows
horses, tractors, implements. While I
methodically
fell off, everything grew
neatly – the road, trees, the children, home; besides me
hollow, insane, weightless, tapered, ever more
thrust in thoughts
and less flesh. I recalled
clearly of goals and projects, supposedly mine; although
absent-minded, unowned, became fuzzy and
in me a certainty of desertion and fall got settled.

© 2016, José Eduardo Coelho





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