Convite
à inCompreensão
Não
sou famoso, nunca
gostei
de o ser mas
posso
dizer que urinei com o grande
Mário
Viegas
Inclusive,
conheci o som do seu
escarro
magistral
A
minha infância ruíu com
medos
titânicos – coisas contundentes
alterando
anatomias e percepções, acidentes
de
viação, corpos em sangue, esvaindo-se
o
rumor de casas devassadas, de interiores cinza e
águas
barrentas a conspurcar a cor plácida dos
sobreviventes
Um
dia resolvi deitar fogo
a
tudo, que foi como
esquecer
conteúdos, matérias, vontades
e
recuperar a minha identidade
original:
despi-me
dos
outros, das suas bagagens, das suas
cidades
até
sentir-me
Voltei
então a segurar-me numa
vida
normal, tipo
ler,
trabalhar, namorar e claro
colecionar
selos e moradas -
que
vinham dos quatro cantos
do
mundo -
terá
sido por essa altura que
comecei
a olhar para as
coisas
com
que habitava; uma
cadeira
foi-me particularmente
querida:
estudei-a, desenhei-a e
quando
recebia visitas
era
nela que se sentavam
primeiro
Não
sou famoso, nunca
me
revi nos prazeres dos sociais, porém
posso
gabar-me de ter privado com o actor
Mário
Viegas
Inclusive,
conheci a jactância das suas
pupilas
colossais
©
2016, José Eduardo Coelho
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