Sugadouro
Sul
A
falha estendia-se intermitentemente, de norte para sul,
ziguezagueando como um rio em plena afirmação. Nos seus bordos,
pequenos pinheiros mansos, salpicando a terra de esperança, cresciam
As
pessoas agrupavam-se aleatoriamente em filas, dispersas, atraídas
pela sede de espectáculo, como moscas ao cheiro de fezes ou de
sangue.
Naturalmente,
a fenda aspirava tudo numa vizinhança íntima, de tempos a tempos.
Isto era bem conhecido.
Quem
vinha sabia que, das duas uma: ou ia ser sugado para as suas
entranhas, qual vítima de um parto em sentido reverso ou ia ser
testemunha da irreversível ocorrência. Algumas pessoas não
saberiam dizer qual das sortes escolheriam, qualquer delas digna de
experiência.
Uma
alimentava o medo, essa matéria prima de fascínio universal. A
outra resumia e consumava tudo num ápice, voraz e implacávelmente.
A
maioria das pessoas, ansiava por esse ápice. A esperança no
desconhecido sendo superior à certeza da catástrofe.
©
José Coelho, 2015
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