sexta-feira, 28 de agosto de 2015

To be

To be

less than the noise of your shoes
walking
less than the measures of your body
being
less than the moulded thoughts
you think
less than the shadow the moon casts
of you

maybe if just the shadow's
shadow

without thoughts, the body
would know
no measures
and walk no shoes


© José Coelho, 2015

Poets' Lane

Poets' Lane

the path is steep
going up a forested hill

in case you get dazed, it's probably
too much oxygen – you
should know this before fainting
or giving up

´cause it really pays off, the view
to the country side
as well as the art work
standing on both sides, by the trees
and fields

Poets' lane, it's here
on earth's
navel

and maybe there's one
unveiled
in a nearby location
waiting upon your
eyes

© José Coelho, 2015


quinta-feira, 27 de agosto de 2015

A Aldeia (Barão Reports)

A Aldeia

Cascalho revolto denuncia a aproximação
e o muro branco
a esboroar-se - matéria luz
dos resíduos incólumes
apertando-me o peito -
cinge-me a clareza de imagens
reflectidas na textura rugosa
do teu abraço
maternal

em frente, avança-se rumo à
limpidez
e ao despertar
prometido

singelo, ausculto os nomes
guardadores de casas
como se acometido pelo ímpeto
da reinvenção do mundo
e de ti
singram jardins exóticos
sacudindo palmeiras e jacarandás
em camâra lenta
contida

Aqui, o tempo
não corre, desliza
quando chove
encostado à geometria
poética das amendoeiras e ao contorno
suave, dos moinhos
abandonados

Prometo à lua um torrão
de terra, daquela castanho-vermelha
daquela onde o restolho
descansa
à minha espera – terra
abençoada, terra
prenhe, sensual, na forma
e na cor
viciante

e o seu brilho -
que há de brilhar
e dar vida ao muro, às casas
aos nomes
onde as osgas brincam
em jardins, sozinhas -
alcança a plenitude.

© José Coelho, 2015


domingo, 23 de agosto de 2015

Sugadouro Sul

Sugadouro Sul


A falha estendia-se intermitentemente, de norte para sul, ziguezagueando como um rio em plena afirmação. Nos seus bordos, pequenos pinheiros mansos, salpicando a terra de esperança, cresciam

As pessoas agrupavam-se aleatoriamente em filas, dispersas, atraídas pela sede de espectáculo, como moscas ao cheiro de fezes ou de sangue.

Naturalmente, a fenda aspirava tudo numa vizinhança íntima, de tempos a tempos. Isto era bem conhecido.

Quem vinha sabia que, das duas uma: ou ia ser sugado para as suas entranhas, qual vítima de um parto em sentido reverso ou ia ser testemunha da irreversível ocorrência. Algumas pessoas não saberiam dizer qual das sortes escolheriam, qualquer delas digna de experiência.

Uma alimentava o medo, essa matéria prima de fascínio universal. A outra resumia e consumava tudo num ápice, voraz e implacávelmente.

A maioria das pessoas, ansiava por esse ápice. A esperança no desconhecido sendo superior à certeza da catástrofe.


© José Coelho, 2015





quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Better People


Each Day

we invent

machines, better machines

what about

people

better
people

for pleasure
finer pleasure
able to scream, repetition, out
and loud

people able to feel
sand
under their feet – a qualm of ignorance
we tend to neglect -
and acrid sweat
in their cozy armpits -
playing

we ought do this shit
right? In order
to avoid late
frustration

Each day

for the sake of
pleasure and all its affiliates -
erótica, literature, art – let's take
a walk in the park and watch
people
talking, dancing, kissing, sitting
in benches
their faces' expressions, contagious
their bodies' swing, melodic
along paths

Then, go home and improve
yourself.


© José Coelho, 2015



Will You Have Some Poetry?

Why is poetry
so important?
It's not
that one dies of it's shortage

it's just that
one
will die sooner

Poetry books, school, mom and dad
should make this clear

Poets, know that all the time;
that's why they
drink
smoke
take dope
among other private techniques

because, originality has a short
life span
and these guys
they need it so bad
they even call it
a muse

In my case, I bravely
keep the addiction up to a minimum:
avoiding poetic moments
reading technical books
or comics – but that's not poetry -
and most coercive
watching TV

What about you?


© José Coelho, 2015


terça-feira, 18 de agosto de 2015

June


June

Say June
everything is properly named, rooted
in its own place, waiting
as precision instruments wait
for their measure
to happen

Say June, why do you nibble
your lips
with pudency
while others gaze
in awe

It just seems so simple; time
constructs rivers
full of water, the same water you
drink, June
            drink, June
the very same liquid
flowing in your hands, eyes, teeth
wetting your spring-purple-lips

orchestras rise from the deepest
ground -
their rhythm matter
an anchor to
love

Say June
would you give me a dancing

and she smiled


© José Coelho, 2015

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Inexaurível Mundo Novo (versão completa prosa poética)


Inexaurível Mundo Novo

Parte I

Há tardes em que me sento, de olhar fixo para lá da janela e nada me ocorre senão diluir-me nas cores que enchem a retina.
Então as formas perdem um significado; gradualmente, deixam de ser úteis ou convictas, caindo por terra como pedaços de origami, esquecidos.
Nesses momentos, o mundo é uma coisa difusa, intensamente onírica e tudo decorre numa doçura líquida, de evocações infanto-juvenis.

Parte II

E então de repente daquela superfície amorfa, colorida surgem relevos, sombreados que se acentuam, recriando uma realidade a 3d, sobreposta à que a subjaz.
Noutro dia, no meio de tais contemplações, deparei-me com uma senhora que estendia a roupa numa corda levantada por dois paus.
Ela vestia uma bata, feia, de matiz dourado, familiarmente cinzenta com um padrão a lembrar vértices e formas angulares.
A roupa sacudia-se ao vento da manhã e o sol, esse olho-mãe cósmico, ofuscava-a e a mim, quase.
Parte III

Tudo se passava numa espécie de pátio, cimentado, com arrumos num dos lados. Ao longe, por detrás de prédios, erguia-se,ensimesmado, o campanário de uma igreja, branco, em forma de zimbório, ocultando vestígios de pura religiosidade.
E assim, neste novo mundo, os detalhes iam nascendo da minha própria vontade de observação, mais ou menos detalhada, à semelhança de uma paisagem digitalmente elaborada.
Por exemplo, conseguia ver as ervas crescendo entre as rachas, no cimento ou as formigas trilhando paredes num passar oblíquo e alheio; mas também a silhueta de corpos magros, incertos, revelando modestas distracções atrás de cortinas de voil.
O que, no entanto, mais estranheza me causou, foi uma invasão de cães rafeiros, que em matilha e ocupando uma superfície nesta tela surreal, fluíam da direita para a esquerda e vice-versa, em constante alternância de direcção.
Então apercebi-me que tudo se passava dentro de um copo; uma mão omnipresente - sim tal era o caso nesta minha consciente alucinação – segurava-o, abanando-o, assim causando essa oscilação.
Porém, tudo o resto permanecia fiel ao comportamento esperado, ou seja, senhora, corda, roupa, casas e igreja, tudo isso era agora como uma cena submersa ou numa apropriação digital, camada que tivesse sido fixa, protegida de alterações à posteriori.
Nesse momento, estupefacto com tudo o que aparentemente decorria de uma forma sensorial à minha frente – sim, era essa a impressão! - ocorreu-me ser eu próprio, a dirigir o guião da minha privada loucura caseira e então com a força da minha vontade pensei na mão como minha – sim apropriação será o termo - tendo de seguida pousado o copo, cuidadosa e vagarosamente, entornei-o.

Parte IV

A massa de água era agora, uma coisa transitória no espaço e homogénea no tempo; os cães não eram mais que partículas de impureza revolvidas no fluxo que a ligava à terra. E, à medida que o fio de água condutor vazava o copo, tudo presente na camada inferior – senhora, roupa, corpos, zimbório - se diluía numa matricial força externa.
Para todos os efeitos, era como se a água, ao ligar copo e terra, me transferisse delicadamente do meu novo para o velho mundo. Nada disto foi premeditado. Nada foi desejado, para lá das opções tomadas no limiar de cada momento.
O reagrupamento, deu-se naturalmente – de novo as cores encheram as formas e estas adquiriram a utilidade conhecida.
Voltei a ver o azul da piscina, na piscina e o verde das folhas, nas folhas; os carros estacionados no sopé do muro de pedra, o prédio dos vizinhos, a roupa na varanda, o bambu nas traseiras do jardim e o céu, esse voraz companheiro – tudo se refez, de novo.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Flowers

Flowers

sprout from the inside out
their bodies bouncing to the smell
of sex
appeal, in plural, is wider
and stronger;
surviving skills, requested
for the longer
run

flowers, become
the present, in plural
and that is simply a beautiful
truth

we should recognize flowers
from the way
they move their petals

as insects
do.


© José Coelho, 2015

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Inexhaustible New World (Part II)


Inexhaustible New World
Part II

And then suddenly
from that amorphous, colorful surface
reliefs, shadows carving them selves deeply

rise up, recreating a
3d reality, superimposed
to the underlying one

Another day, in the middle
of such contemplations, I met with
a lady who was hanging out
washing on a line sustained
by two sticks

She was wearing a robe, ugly
golden hue, familiarly
gray with a pattern
suggesting vertexes and angular
forms

Clothing shook it self in the morning
breeze and the sun
that cosmic eye-mother
dazzled her and me
nearly

© José Coelho, 2015

Inexaurível Mundo Novo (Parte II)


Inexaurível Mundo Novo
 
Parte II

E então de repente
daquela superfície amorfa, colorida
surgem relevos, sombreados que
se acentuam, recriando uma
realidade a 3d, sobreposta
à que a subjaz

Noutro dia, no meio
de tais contemplações, deparei-me
com uma senhora que estendia
a roupa numa corda levantada
por dois paus

Ela vestia uma bata, feia
de matiz dourado, familiarmente
cinzento com um padrão
a lembrar vértices e formas
angulares

A roupa sacudia-se ao vento
da manhã e o sol
esse olho-mãe cósmico
ofuscava-a e a mim
quase

© José Coelho, 2015

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Unlikely Rendezvous

Unlikely Rendezvous
(or True Love Story – Part II)

Two minutes before time I had emptied my cup of coffee and sipped every drop of morning illusions charged with night's beast-like energy - Imagine how she would look like, now, 25 years after our last rendezvous?!
The idea of meeting her again, had been whirling down my spine since last Sunday – no reason why - and though it was absolutely nuts to think of she, actually making it, there was no way to avoid this crazy chance. So I called my friend Carlos, told him I would be moving - Beginning of next week, just for a few days or who knows maybe I'll be back after a few beers and chatter.

There's no reason to be downbeat!
So there I was, in the agreed spot – a small coffee shop with a couple of tables on the pathway – right across the house and square where love and fights happened, flesh and soul craving for mirthfulness. Holding a book in one hand and scanning the sky for a little dragon or something alike, I was doing my best to ignore the background freaking sensation, ruminating with each beat of the clock – what the fuck am I doing here!?

And now the time had come: it was 8 am – no kidding she had always been thrilled by the morning light; – people rushed in and out of buses. Some walked straight to the inside for a quick breakfast or just passed by. At the table next to mine, a man looking like a pimp savored his morning liquor while two ladies slurped more essential drinks. All looked well! And for a moment I even forgot the reason I Was there. The city was beautiful. Worth the journey!

Ten minutes later, she was not coming, I just knew. So I stood up and headed inside to pay at the counter. I walked through the 'pimp', had a glimpse at the ladies. They were dressed to kill - not my style! At the counter, while waiting for the change, loose words reach to me: “fuck it Silvia! You can sleep at my place if you want to...anytime”. These stirred me up! Wicked coincidence... That's her name!! I move out taking another look at the girl with her name – the hair matches hers', the face... too much makeup and I'm already walking down the street, loose thoughts boiling in my mind.

We didn't plan further meetings.


© José Coelho, 2015

Inexhaustible New World (Part I)


Inexhaustible New World

Part I

There are afternoons
where I sit, fixed
sight beyond the
window
and nothing occurs to me besides
thinning out among the colors that fill
the retina

Forms lose
a meaning, then;
gradually cease to be
useful or convinced
falling to the ground as forgotten
origami
pieces

At such times
the world is a diffuse
thing, intensely oneiric
and everything follows
a liquid sweetness of infant-juvenile
evocations
© José Coelho, 2015

Inexaurível Mundo Novo (Parte I)


Inexaurível Mundo Novo


Parte I

Há tardes
em que me sento, de olhar
fixo para lá da
janela
e nada me ocorre senão
diluir-me nas cores que enchem
a retina

Então as formas perdem
um significado;
gradualmente, deixam de ser
úteis ou convictas
caindo por terra como pedaços
de origami
esquecidos

Nesses momentos
o mundo é uma coisa
difusa, intensamente onírica
e tudo decorre
numa doçura líquida de evocações
infanto-juvenis

© José Coelho, 2015



domingo, 9 de agosto de 2015

True Love Story

True Love Story

We met each other one drizzly day, end of summer, under a squatted
sun.

It smelled like fresh
relief, due to the rain, patiently nibbling
the ground as if thirsty;
for love
and trust - eyes' trust, mouth's love and maybe
tenderness, hands' tenderness.

Sex came, not
from the flesh but from the soul. The soul
is the inner inhabitant of the flesh and once touched
can irrigate the moon, soak
the desert in verdigris or whatever color
you dream of, believe
and so it happens we believed, blindly, in an endless
hued summer.

By the end of September, the city
dressed in gray water like suits –
tarry streets sunk
under introverted buses, building's frontages
decayed, trees
whimpered in their loneliness, doves..
no doves were ok and people
were getting closed
as old cellars ready for renewal.

I still keep her letters, in a box
she gave me with a small
green dragon – such was her
nickname – inside. The dragon is gone and so is she
diluted with time and tears.

Before breaking apart we agreed
to meet
unconditionally
in a specific date, of the future.

That day will be
tomorrow!

© José Coelho, 2015

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Small Strengths

Small Strengths
(or Description of a passenger while loose thoughts go)

I ignore if
he realizes time is a small
box delivering sound into space

he keeps on walking, head up, surveying the periphery
far above the ground, like
scanning for length and color;
on a close scale his left index finger
is pressing
his mobile's jack plug softly
to the inner side, but that
is irrelevant, maybe

the fields are a sea of haulm, waiting

I ignore if
he realizes he is being observed
or whether he has noticed the continuum
hum that fills the silence
when we stop
making noise, space
can be heard

I've seen it, felt it
more than once, when lying
in my cabin's bed, at night, space talks to me –
that's when I think ideas
cross the threshold of awareness
becoming – about form and time explores its utility
halting just for a few secs

the fields are a bedding for light, waiting

he's gone!

and I ignore if he's coming back


© José Coelho, 2015