quinta-feira, 21 de julho de 2016

Perversões do Meio-dia

Perversões do Meio-dia

A minha empregada não
percebe nada de poesia e
além disso
desordena-me os livros
todos – vou
despedi-la, já!

disse, entrementes

Depois, fez a cadeira
girar uns 30º e
colocando ciosamente os pés entre
duas edições da História
Trágico-Marítima
virou a página e deleitou-se
com mais umas
nalgas, empinadas

Semanalmente
à sexta-feira
a sua encomenda de revistas
eróticas estrangeiras
chegava
dando-lhe tréguas aos livros
e à escrita
para se dedicar a um momento de
- segundo ele -
infusão vaginal

E enquanto eu vertia chá
ou café – a gosto -
em copos de plástico
não alimentar
a cidadãos despreocupados
ele
literalmente
babava-se.


© 2016, José Coelho



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