*Descrição
de Um Fim de Dia*
Descemos
a marginal junto à costa
pacientemente
saboreando
cada curva, os matizes torrados
de
fim de tarde, rebentam
nas
pedras, na areia das fachadas
deslizam
sob
o calor, emprestam desejos
às
formas intimas que
espreitam
das
janelas – seios, mãos, faces -
almejam-se
outras margens
Dadas
as limitações
não
paramos
há
uma linha de pensamento
a
seguir - melhor, ela flui -
e
nós enfetiçados
nada
fazemos, senão
sermos
matéria de
continuidade
nesse
estado
de
inércia
afloramos
à superfície
de
fortes, fortalezas, palacetes
requintados
aquários
ao abandono sem água
nem
peixes
para
além de pinturas
exótico-intro-
vertidas
Não
há exagero qualquer
na
pequenez que somos
qualquer
grama adicional seria
fisicamente
móbil
destruidor
Há
que respeitar
as
relações de força
Sucedem-se
praças magníficas
monumentos
em decadência
mosaicos
duma
exuberância jovem – fontes, relvados
grafitis
coloridos -
exalam
uma desconcertante
paixão
pelo
futuro
e
as pessoas, essas
sorriem
e abraçam a atmosfera
que
vaza como um rio
calmo,
ordeiro
sedento
da sua
foz
larga
acolhedora
depois
voltamos
à estrada – o asfalto é
ainda
um corpo de mulher
macio,
quente
que
pede
carícias
sem
delongas
do
céu
ou
talvez das pontes ou
do
cristo
pingam
sinónimos de
amor,
alegria
e
outros que tal
porém
noturnos
passam
despercebidos
As
luzes do automático
acendem-se
e
alguém sugere que
continuemos.
©
2016, José Coelho
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