morri
hoje morri. depois
de um dia vulgar transcorridas as horas de sol e luz debaixo da
mundana normalidade abracei a noite e então morri. morri dentro da
sombra da lua em mim sem mácula desespero arrependimento apenas
estando só e sendo o pouco que soube ser. morri na horizontal do
tempo que as horas acumuladas nos vincos de uma memória parda
asfixiaram.
talvez a maré da
tarde pudesse ter impregnado a atmosfera de sais e a humidade salobra
da tua boca velado a instância que me representa adiando o
inevitável talvez. talvez o ocre da terra ou o entardecer das
oliveiras. e os cogumelos voltariam? a brotar das paredes como no
sonho em que tu despertas e eu nem sei se é sonho. e os pintainhos
correriam para ti escanifrados através d'aquela porta? talvez o
azul-céu do oriente da minha rua por detrás do cedro constante e
verde revelasse o segredo que sempre me murmurou a uma distância
inaudível. e seria bom. sei-o porque mo revelou o bom deus das
crianças inócuo contador de histórias. eternas. para lá dessas
fronteiras e planícies esculpidas ao vento morri na tua ausência.
naquele andar inconsciente para trás e para a frente. cansado de não
encontrar a saída da direcção e sem porques nem porquês esbati-me
na brancura do vinco do tempo. penso.
agora
morri sem saber.
dei-me
conta.
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