quinta-feira, 22 de outubro de 2015

morri


morri
hoje morri. depois de um dia vulgar transcorridas as horas de sol e luz debaixo da mundana normalidade abracei a noite e então morri. morri dentro da sombra da lua em mim sem mácula desespero arrependimento apenas estando só e sendo o pouco que soube ser. morri na horizontal do tempo que as horas acumuladas nos vincos de uma memória parda asfixiaram.
talvez a maré da tarde pudesse ter impregnado a atmosfera de sais e a humidade salobra da tua boca velado a instância que me representa adiando o inevitável talvez. talvez o ocre da terra ou o entardecer das oliveiras. e os cogumelos voltariam? a brotar das paredes como no sonho em que tu despertas e eu nem sei se é sonho. e os pintainhos correriam para ti escanifrados através d'aquela porta? talvez o azul-céu do oriente da minha rua por detrás do cedro constante e verde revelasse o segredo que sempre me murmurou a uma distância inaudível. e seria bom. sei-o porque mo revelou o bom deus das crianças inócuo contador de histórias. eternas. para lá dessas fronteiras e planícies esculpidas ao vento morri na tua ausência. naquele andar inconsciente para trás e para a frente. cansado de não encontrar a saída da direcção e sem porques nem porquês esbati-me na brancura do vinco do tempo. penso.
agora
morri sem saber. dei-me
conta.


© 2015, José Eduardo Coelho
  

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