sábado, 12 de agosto de 2017

Num Sábado Diferente

Num Sábado Diferente

É enternecedor entrar naquele reino
de farinhas. O sr Zé, de avental por cima
dos calções e sandálias romanas
envolvido numa nuvem, misto de
grelhada e fermento, mãos brancas e
cara sorridente
destaca-se pela azáfama. Ao seu lado
a sobrinha, Inês, ri desalmadamente
em tons tintos de gaivota, perscutáveis
desde o início da rua. Ao fundo da sala
o improviso - num dos fornos
um fogareiro fabrica o fumo e as
deliciosas tiras de carne. Num tabuleiro
há pães e várias garrafas de vinho
sempre alentejano. Sentada e
arrumada, a mãe do Nito vai comendo a
broa – receita especial da tia Ermelinda -
e olha apaziguadamente
pr'a mim.
Pelas nove da manhã, na padaria
vive-se um festim de almoço. Entro
para fazer contas, apenas
mas sou assediado, até mesmo
pela Paula – que não me grama
a brincar.
Será este um dos últmos sítios onde, normalmente
me perguntam – quanto vem pagar?
E para mais me oferecem
o riso e o pão, a carne e o vinho
num sábado
diferente.

© 2017, José Coelho


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