A Promise
I'll soon become
for the greatest part
the real man, men had
expected could overcome
and be, over
the years
The minor part - an art -
will be held hostage
and remain
here, waiting for
you
Don't let me
down!
© 2017, José Coelho
terça-feira, 29 de agosto de 2017
domingo, 27 de agosto de 2017
Desafios e Conquistas
Desafios
e Conquistas
Temo
em dizer-te que o sono
me
pesa já nos dedos
que
há pouco te urdiam
constelações
de desejo
numa
anatomia de deserto
vã,
porém
promissoramente
fértil e
que
o ultraje se instalou já, no seio
dos
pequeninos deuses -
aqueles
cujas lágrimas são
perfeitas
doses
de
veneno a pedir língua
e
dedos capazes de
coito
e
cinzas
subtilmente
ágeis, as penas afagaram
ontem
este céu purpurado
e
de novo rumaram
ao
mais longínquo dos suis -
aquele
onde almejam o conhecimento
dos
nomes e a engenharia
do
fogo
A
alegria virá sempre
um
dia, lamber as margens
dos
rios inesquecíveis; dos pés
e
mãos que ficarem
edificar-se-ão
as novas cidades
e
da vontade surgirão lautas
florestas
castas
Temo
em dizer-te que tudo
não
passa de um
pantagruélico
e eloquente
sonho.
©
2017, José Coelho
sábado, 12 de agosto de 2017
Num Sábado Diferente
Num
Sábado Diferente
É
enternecedor entrar naquele reino
de
farinhas. O sr Zé, de avental por cima
dos
calções e sandálias romanas
envolvido
numa nuvem, misto de
grelhada
e fermento, mãos brancas e
cara
sorridente
destaca-se
pela azáfama. Ao seu lado
a
sobrinha, Inês, ri desalmadamente
em
tons tintos de gaivota, perscutáveis
desde
o início da rua. Ao fundo da sala
o
improviso - num dos fornos
um
fogareiro fabrica o fumo e as
deliciosas
tiras de carne. Num tabuleiro
há
pães e várias garrafas de vinho
sempre
alentejano. Sentada e
arrumada,
a mãe do Nito vai comendo a
broa
– receita especial da tia Ermelinda -
e
olha apaziguadamente
pr'a
mim.
Pelas
nove da manhã, na padaria
vive-se
um festim de almoço. Entro
para
fazer contas, apenas
mas
sou assediado, até mesmo
pela
Paula – que não me grama
a
brincar.
Será
este um dos últmos sítios onde, normalmente
me
perguntam – quanto vem pagar?
E
para mais me oferecem
o
riso e o pão, a carne e o vinho
num
sábado
diferente.
©
2017, José Coelho
sexta-feira, 11 de agosto de 2017
A Poet
A Poet
is
an ordinary individual
with
creative anxiety
and
a stubbornness beyond doubts
and
certainties; an irrational
conviction
of existing embedded in something
that
mottles and provokes
life
A
poet is a reinventor – each time
he
writes, he writes
the
illusion of words
There
is
a
sentiment of change linked to
the
poet - he can, in fact
finish
or start the world
in
a spit of soul
and
quill
We
are all born with a
little
poet inside
of
us arise as well the antibodies that shall
wither
and placate him
When
we get rid of all the trash
the
poet is reborn and overwhelms
simply
because
it's
his nature to emerge
on
top
Without
poets we would be, for sure
just
a kind of
humans.
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Um
Poeta
é
um indivíduo comum
com
uma ansiedade criadora
e
uma teimosia para além das dúvidas
e
das certezas; uma convicção
irracional
de existir embebido em algo
que
matiza
a
vida e a provoca
Um
poeta é um reinventor – de cada
vez
que escreve, ele escreve
a
ilusão das palavras
Há
um
sentimento de transformação associado
ao
poeta – ele pode, de facto
terminar
ou começar o mundo
num
esgar de alma
e
de pena
Todos
nascemos com um
pequenino
poeta dentro
de
nós surgem também os anti-corpos
que
o definham e aplacam
Quando
nos livramos de todo o lixo
o
poeta renasce e avassala
simplesmente
porque
é
a sua natureza vir
ao
de cima
Seguramente,
sem poetas seríamos
apenas
uma espécie de
humanos.
©
2017, José Coelho
segunda-feira, 7 de agosto de 2017
Life Is Fiction
Life Is Fiction
Poetry
is fiction
life
is real
poets
are real
instruments
of fiction
fiction
is real, in reality
and
otherwise
true,
real
fiction
is real and
poetry
is real
as
far as made by
poets
or
machines
made by poets
in
any case
true
life is poetry
thus
fiction.
©
2017, José Coelho
sábado, 5 de agosto de 2017
Alboran Sea
Alboran
Sea
I
would love to measure the distance
between
us, an unthinkable Alboran sea
Birds'
cries are heard, south and north
mirroring
the unspoken alphabet
only
we shall come to speak
At
this point the feeble laps against the boat's hull
became
stronger as another ship sailed
up
the river; I raised my head before this
warm
incident
to
see you, let's go beyond the idea of
drainage
– that could take eternities and
my
faith is an ephemeral
element
People
get familiar on water, as if back to
mother's
womb – they wave and smile at their
own
illusions – the same within the
diaspora.
But
you, are not a mere illusion
in
my dreams your blood clots the strait between
both
pillars.
©
2017, José Coelho
sexta-feira, 4 de agosto de 2017
Irremediable Condition
Irremediable
Condition
The
few times I have seen her
her
exuberant hair - long curly
waves
conquering her back
wrapping
her serious smile in a
dark
silver cuddle - persisted
as
a symbol of our hopeless
love.
©
2017, José Coelho
quarta-feira, 2 de agosto de 2017
Considerações Baronescas
Considerações
Baronescas
I
Todas
as manhãs ocupo a posição do sol
da
mesma colina do declínio, observo o fascínio
Iludem-me
os desnexos das constantes repetições
no
dia que entra. A jorros de noroeste
um
contínuo sacudir de estevas e acácias ensaia o vento
e
envolve
a
desconhecida que veio para o funeral do irmão
o
músico organista de feições graves e funestas
o
café central e toda a sua horda de clientes sabáticos
os
cães livres de trelas e donos
os
poetas plantados pelo caminho que é deles
os
que, sendo poucos, fazem muito
os
que, sendo muitos, fazem pouco
os
que gemem e riem, alto, enquanto existem
os
que leêm, seduzidos ou esquecidos
da
nostálgica complacência dos que longe
os
exaltam e excedem no olhar
os
condoídos, de bíblia de bolso sempre na mão
reféns
de uma fé amarelecida pelo tabaco
nas
ponta dos dedos e fotos da Nossa Sra de Fátima, suadas
nas
bordas e ainda os velhos, sentados, sonolentos
ao
redor de mesas, como virgens apascentadas
pelo
ocaso da vida
II
Todas
as manhãs, subverso, deslizo sobre a terra
e
faço-me um Deus-sol a repartir humanas e cansadas
peleias
Pelas
ramadas e muros alvos cresce
a
forma abstracta
por
dentro alheia, à cor e ao cheiro
circunscreve
a ideia de
paz
e antípoda
[deixando
de querer
vive-se,
tolera-se uma presença presa]
apenas
ancorada nas sombras
das
árvores que ouso olhar
seduz-me
o dom dos pequenos vícios presentes
no
verso das paisagens
III
Todas
as manhãs, uma imensidão de objectos
descartáveis,
passa e sopra uma oração
surda
[Senhor,
a verdade é que não
sou
igneo, por certo morri já, frio e apenas
me
invento numa loucura de estio]
onde
a alma se esgota. Deixei de tolerar
o
adeus; das pessoas reduzo-me a uma
frase
sintética, tipo – etiqueta oceânica, sem sal
e
esquivo-me à intimidade de gestos
lunares
Deposito
uma hóstia de cinzas
num
delírio de corações cremados e aceno
ao
indelével contorno dos campos onde
corpos
renascem
sempre.
©
2017, José Coelho
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