*Os
Nardos Não Migram*
Os
nardos ao final da tarde agitam-se
A
brisa desce da montanha
à
procura do seu calor. Crianças
à
beira da estrada num colchão, saltam
e
as suas vozes confundem-se
No
desassossego das árvores
nasce
a sugestão de uma existência
sem
ordem -
que
cuide e regule -
de
um sistema de trânsito esquecido
onde
rege a náusea
do
enxofre
À
beira da água um relógio suiço
mantém
o controlo do tempo
Num
banco de jardim
dizem-se
coisas importantes:
cuida
bem dos miudos e de ti
não
percas a esperânça
esses
dias hão de voltar
sê
forte e pugna enquanto
o
sol – ou a lua - brilhar
A
alma, sim purga-se
a
cada passo dado na direcção
-
única, possível -
onde
rápido e curto é o momento
em
que os olhos desvendam
o
dilema – há que tê-lo em atenção
memorizá-lo,
dar-lhe cama e guarida -
logo
a sede ensopa as línguas e aperta os dedos
sujos
de sangue e desespero
[Eles
afunilam e mediocrizam as crenças!]
A
inestimável vontade de ser levanta a poeira
da
terra. Os nardos, indiferentes, respiram
enrijecem-se
e preparam-se para dormir
As
crianças já não saltam, os seus olhares púberes
fixam
no horizonte, um futuro
imaterial,
apenas talvez uma visão
de
um belo passado recente.
©
2017, José Coelho
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