domingo, 23 de abril de 2017

A Propósito de Liberdade

A Propósito de Liberdade

Ávidos somos e os bichos?
numa labuta de hábitos e prazeres
singelos dias-
boomerang
de sol vem em sol vai
a cada vez, é uma pena
a menos e é desconcertante ficar
sem asas e seguir
pensando que se pode
voar, apesar de que 
até o tempo resolve
esse vulgar
conflito

À Ana, meteram-na num envelope
amarelo – desde pequenina – para evitar
desilusões e histórias endócrinas, dessas capazes
de tudo. Enfim, nasceu com os botõezinhos
todos no sítio – dir-se-ia perfeita – mas logo
lhe viram males onde, por defeito, só
existiam bens e então vá de
admoestar a sua natureza bravia
povoando-a de cores
suaves e dóceis. Apesar da incisiva
insistência, e das lavagens em massa
tipo brioche, a sua ingénita crista
teimava em crescer, numa de incitação
aos céus – diziam. Daí que
não restaram outras saídas:
começaram por cortar-lhe as zonas mais
salientes – dos seios, os mamilos e das nádegas
apenas umas dobras – poupando-lhe
os membros na condição de aceitar 
usar roupa e calçado anti-crescimento. Assim
depois desta fase preparatória, ela
sem resistência, entrou, de livre e expontânea
vontade
para o referido envelope –
que era amarelo.

© 2017, José Coelho



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