sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Há Três Minutos


há três minutos

No céu, o manto do esquecimento
a chuva, frágil, dócil, copiando-se
em gotas, gotículas
temporariamente perdidas no êxtase
da queda
copiosa
e a luz, surda
revendo-se no voo baptismal dos pássaros
ausentes

O olhar
demora-se, pensativo
subtrai-se à inexactidão das coisas -
concretamente as coisas mordem-se, sujam-se
dejectam-se, destruindo-se sem
deixar espaço
para mais que outras
coisas -
cresce asas, por sobre o manto
de esquecimento
e flui

Enquanto te distrais
o meu corpo
- um rio, algures -
cresce
e o som resvala na lembrança
que trago -
há três minutos
os pássaros
eram gotas, deslizando na superfície
do olhar -
e o céu abre-se
troando ais
em êxtase
segredo-te a matéria de que a luz
é feita
e das coisas
nem o nome ou a memória
do espaço

© 2015, José Coelho

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