Para
uma Estética do Esquecimento
Entrou.
Sem
pestenajar,
sentou-se e olhou-me de frente.
Disse
que queria falar-me de uma estética, nova,
porém
a sombra ou o reflexo
de
algo na mesa, cintilando, remexendo-se, parecendo até um cardume
de
ideías que
engordava
e emagrecia em anéis
de
vento, distraiu-o. Então calou-se
e
ficámo-nos por uma presença, discreta
entorpecida
no meio do nada
até
que a porta se abriu
e
nos convidaram para a sessão de
grupo.
Hoje,
lia-se. E eu, abalado ainda, tentei
dominar
toda a minha vontade e concentração.
Beber
água ajudava. Bebi e
tanto
pensei no título, que me esqueci do conteúdo.
E
dele, nem mais uma gota
restou.
For
an Aesthetics of Forgetfulness
He
came in. Without
blinking,
he sat down and looked me in the eye.
Said
he wanted to talk to me about one aesthetics, a new one,
but
the shadow or reflection
of
something on the table, glistening, fidgeting, even appearing a shoal
of
ideas which
fattened
and lost weight in wind
rings,
distracted him. Then fell silent
and
we became a presence, discreet
numb
in the middle of nowhere
until
the door opened
and
we were invited to a group
session.
Today,
it got read. And I, still shaken, tried
to
master all my will and concentration.
Drinking
water helped. I drank and
so
much I thought about the title, I forgot the content.
And
of him, not another drop
was
left.
©
José Coelho, 2015
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