Rodamo-la na esperança de ver, com paciência, o interior, como nas imagens do livro, que não estão lá, escondem-se, e depois de esquecidas, aparecem, vivas num admirável leque de contornos
Mas a luz é soberba e cega. o sangue flui devagar, a medo, e a ânsia, essa, galga o horizonte contrito das vidas que temporariamente esquecem, deitadas sob areia deste sol, redondo.
Mesmo que só (havia, porém,) um desenhar de ósculos a lamber a terra no vai-vem das ondas, uma floração contínua no limiar das nuvens, uma anunciação precoce na transparência das vestes, finas e reticulares mãos palpando a textura da fronteira entre o ser sujeito e o ser objecto
Pergunto-me se haveria um plano, esquecido numa qualquer gaveta sem mapeamento, a qual terei, porventura, negligenciado - morro por abrir e revê-la como quando caminho por uma rua da minha infância, lentamente, adocicando cada porta, cada janela, cada tijolo à mostra, respirando um elemento que apenas posso classificar de, mágico, pois é esse que me aproxima, de mim, dos outros e nos injecta luz
Quantas terão sido as vezes que abusei do amor dos outros?
© José Coelho, 2018