quinta-feira, 4 de maio de 2017

Pássaro-Concha

Pássaro-Concha

Não sei exactamente quando; a noite
trás-me vozes surdas
que se exercitam quando fecho os olhos
como ontém, nascida a lua, a tua

Agora que estamos sós, deixa-me
agarrar-te pela dobra da boca
medir o canto dos teus lábios
aprofundar-me no conhecimento
da tua voz, que à alma
liga e dá corpo

ao espírito e viceversa, talvez
me confundas com o deslizar das mãos
no peito, perscutando interiores ou
lendo na tua pele a natureza
frágil dos dias”

era de uma fluidez e clareza
própria de altitude, solitária, arrojada
delineava constelações novas
e eu abismado, seguia-a

Agora que estamos sós, digamos
as coisas mais simples e sagradas
vertamo-las na brisa que sopra, deixando-as
voar e retornar a um ócio de arrulhos

sempre prazenteiro este leito
duas aguarelas, nossos corpos
que entornem as cores e sejam
composição, abrigo na madrugada”

Jurei guardá-la para sempre
nem que fosse a brincar
memória-flor, pássaro-concha
amanhã, beijo-te
se calhar

© 2017, José Coelho


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