Pássaro-Concha
Não
sei exactamente quando; a noite
trás-me
vozes surdas
que
se exercitam quando fecho os olhos
como
ontém, nascida a lua, a tua
“Agora
que estamos sós, deixa-me
agarrar-te
pela dobra da boca
medir
o canto dos teus lábios
aprofundar-me
no conhecimento
da
tua voz, que à alma
liga
e dá corpo
ao
espírito e viceversa, talvez
me
confundas com o deslizar das mãos
no
peito, perscutando interiores ou
lendo
na tua pele a natureza
frágil
dos dias”
era
de uma fluidez e clareza
própria
de altitude, solitária, arrojada
delineava
constelações novas
e
eu abismado, seguia-a
“Agora
que estamos sós, digamos
as
coisas mais simples e sagradas
vertamo-las
na brisa que sopra, deixando-as
voar
e retornar a um ócio de arrulhos
sempre
prazenteiro este leito
duas
aguarelas, nossos corpos
que
entornem as cores e sejam
composição,
abrigo na madrugada”
Jurei
guardá-la para sempre
nem
que fosse a brincar
memória-flor,
pássaro-concha
amanhã,
beijo-te
se
calhar
©
2017, José Coelho