terça-feira, 19 de setembro de 2017

Acabemos Com A Nostalgia

Acabemos Com A Nostalgia

As grades em ferro, que lá continuam
e tantas vezes saltámos; os frondosos plátanos
que me acariciavam as manhãs e aos quais
tão amiúde subimos, escondendo-nos
nas suas ramagens, qual pardais
continuam lá; o chão duro
de alcatrão, gravilha e cimento, onde
não raramente senti o baque da queda nos
braços e pernas, continua lá
A rua virada a nascente
capaz de reter entardeceres húmidos
com o seu pinheiro nórdico no final, mesmo
junto ao jardim-de-infância
continua lá - e é uma aberração
esta permanência, quando nada, mesmo
nada continua lá. Mudem tudo

Merda! De uma vez. Escuso de andar
de lado, quando passo na minha rua
a evitar o olhar das velhas – que essas sim
por lá andam ainda, mais velhas que a loiça
e que os esgotos, a vender saúde
derivado aos conselhos da minha mãe -
já ida – escuso de roçar a casa que sempre será
minha e sentir uma força a puxar-
me para o interior de mim mesmo, sem
grades ou ferro que me detenham; por isso fujo
e volto na esperança de que seja lesta
a renovação – ou será que
imagino tudo?
Isso.

© 2017, José Coelho


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