Ideias
numa Cidade
Pelas
18:00 a tarde é um discreto bulício
um
ir e vir estudantil
filtram-se
olhares pelas frestas dos estores
há
uma azáfama de pássaros a entender
as
horas, como se
crias
e ninhos
Da
loja de discos à tabacaria
num
roteiro de conchas, búzios, cavalos marinhos
mini
pipas recheadas, anzóis e
um ou outro sol, aprende-se
um ou outro sol, aprende-se
Por
vezes as pessoas
adormecem
e nem os passos se encontram
Tudo
assenta num fétido e matricial
leito
escuro
De
esquinas palpáveis, conhecedoras
dos
tacões e vozes de quem as
vira,
saem
vizinhas
aprumadas
Nos
escaparates alinham-se revistas
estrangeiras
de olhar disperso, impúdicamente
amaciam
a pele e o rosto
O
cheiro a borracha Sanjo
À
passagem pelos arcos define-se
o
momento do medo
ou
do suculento ódio por tudo
Aí,
engraxadores dedicados
todos
escovas e pomadas
num
hábito de senhores
e
pedantes
exercem
a
espera polida e sempre
o
pano
sebáceo
na
mão a graxa negra
e
o odor ao vício
Do
outro lado, homens
encostados
à parede
melenas
alinhadas numa réplica de templos
húmidos
de
cabeça baixa, por vezes lançando
um
olhar curioso ou então
nada
apenas
fixados na enorme ventoinha de hélices pesadas, a lembrar
remos de
um tempo
de
sal e marés
vazadas
Algumas
paredes são
espelhos
dos
quais fugimos
É
lá que a minha presença se desvanece
Se fosse agora, morria ou
Se fosse agora, morria ou
seria
meio
mas
sendo fraco, obrigo-me.
©
2017, José Coelho
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