quinta-feira, 13 de julho de 2017

Ideias numa Cidade

Ideias numa Cidade

Pelas 18:00 a tarde é um discreto bulício
um ir e vir estudantil

filtram-se olhares pelas frestas dos estores

há uma azáfama de pássaros a entender
as horas, como se
crias e ninhos

Da loja de discos à tabacaria
num roteiro de conchas, búzios, cavalos marinhos
mini pipas recheadas, anzóis e 
um ou outro sol, aprende-se

Por vezes as pessoas
adormecem e nem os passos se encontram

Tudo assenta num fétido e matricial
leito escuro

De esquinas palpáveis, conhecedoras
dos tacões e vozes de quem as
vira, saem
vizinhas aprumadas

Nos escaparates alinham-se revistas
estrangeiras de olhar disperso, impúdicamente
amaciam a pele e o rosto

O cheiro a borracha Sanjo

À passagem pelos arcos define-se
o momento do medo
ou do suculento ódio por tudo

Aí, engraxadores dedicados
todos escovas e pomadas
num hábito de senhores
e pedantes
exercem

a espera polida e sempre
o pano
sebáceo
na mão a graxa negra
e o odor ao vício

Do outro lado, homens
encostados à parede

melenas alinhadas numa réplica de templos
húmidos

de cabeça baixa, por vezes lançando
um olhar curioso ou então
nada
apenas fixados na enorme ventoinha de hélices pesadas, a lembrar 
remos de um tempo
de sal e marés
vazadas

Algumas paredes são
espelhos
dos quais fugimos

É lá que a minha presença se desvanece
Se fosse agora, morria ou
seria meio
mas sendo fraco, obrigo-me.

© 2017, José Coelho


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