Sobre Poesia
(Irreversivelmente descrito)
Porém,
à minha frente, uma
rapariga
passa, passeando um cão;
banco de jardim.
banco de jardim.
Eu estou sentado a ouvir;
os velhotes nas suas colmeias
de cartas e mangas de camisa
puxam biscas e manilhas
a perderem-se de sol
e sombras;
as sombras,
da rapariga e do cão;
não queria falar delas,
nem deles, mas
a verdade é que
dou por mim a pensar
no efeito
de um no outro
sim, pondo os óculos, a rapariga é
bela e suave, quase,
diria serenamente física de luas
cheias e novas e um tom
de tangerinas
quando se trincam, ácidas,
enchentes de goma
mas a questão é,
o contributo do cão
altivo, cauda em riste, ligeiramente
ondulada,
frisados os pelos,
compridos,
saboreando a brisa do parque,
o cheiro da relva
penetrando
os sentidos mais animalescos
e a minha percepção desta composição
poética
por realizar;
...e a graça com que avançam!
A beleza de um, atrai a do outro
e não consigo decidir qual e se
hei de eliminar.
O sol vai alto, ofusca-me!
em lágrima
Certamente antevejo já uma casa
de ventoinhas
ecráns tácteis em pátios refrescados
plantas exóticas crescendo
descontentes
ao redor das noticias quentes de mais
um verão
pingado
Eu desmonto a minha tenda e ponho-me
todo
de interiores,
sintético, analista
teclado cerzindo, dedos troando
numa tentativa inútil
de soprar
à secretária febril dos meus
pensamentos
aquela manhã, de tágides
saída.
Deste velho 5 andar
onde convivo com baratas,
um ou outro rato e fabulosas vistas
para o
Sul
desconcentro-me finalmente nas tuas
águas eternas
e escrevo.
©
2014, JC
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