sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Aquele Ele Poderia Ser Eu

Estes tipos da rádio, já não sabem o que hão de dizer...
entopem-se a eles e a nós, garroteiam-nos
descaradamente empanturram-nos
com desperdícios transgénicos
inúteis
fá-los ocos Oh miseráveis!
Nós os que aceitamos
nada, menos lixo
com que nos preparam para
a ceia final,
rejeitemos!

Em vésperas de sol
a sul
fui finalmente transferido.

As nectarinas descaíam
pelos seus seios gomosos,
rasgos de lucidez
nas mãos a aparar
e a espremer
nós, de(le)itados
sorviamos o que sobrava.
As viagens despertam-me sonhos
bizarros, ambíguos

No entanto,
conseguimos calar os ranhosos da rádio;
estacionados em espanto
olhavam-nos
boquiabertos...
Não liguei.
Febril de antecipação
olhei a paisagem, imaginando
como seria para cada um dos outros 33
no autocarro
olhar a mesma paisagem.
Que sensações teriam
perante a mesma realidade
que a mim
deslumbrava

O autcarro parou.
Hora do chichizinho, da bolacha e do café.
A malta não se continha,
era lixo para todo o lado;
raivas colaterais desviaram-me
fechei-me na minha janela
e deixei os olhos pousar num carro imóvel a média
distância.

Dentro, o condutor observava-nos
e eu a ele, e ele a mim... não sei
era demasiado longe
mas eu senti
que aquele ele
poderia ser

eu

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