Hidratos,
Açucares, Proteínas
A
comida é a base de toda a poesia
porém,
quando em demasia
atrofia
e degenera todo e qualquer
acto
criativo. Dizia-se
de
um mendigo chegado aos lados
do
Arco do Cego, que
ficara
famoso no seu meio, pelos seus
tercetos
e quadras
livres
-
quase
tanto como ele
a
sua escrita, rabiscada em caixas de piza
guardanapos
usados e por vezes
em
papel, reciclado e liso
surgia
escancarada aos olhos dos utentes
da
carris, nas paragens de autocarro
e
aos transeuntes menos precavidos a
estas
formas de expressão, nos
contentores
de lixo - dizia-se
que
era a escrita que lhe saciava
a
alma e parte do corpo, aquela
mais
apta
à
absorção, ao esquecimento e dada
à
benevolência
do
metabolismo -
um
erro - a carne pede
carne
primeiramente
a alma anseia
por
água e alimento
e
a poesia nasce – quando calhe
e
queira – da digestão de
puros
hidratos, açucares, proteínas
sejam
em estado gourmet
ou
no final dos dias.
©
2016, José Coelho
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